segunda-feira, 21 de junho de 2010

Soneto


Agora, enfim, viver de novo a vida
E, assim, olhar pra tudo diferente.
Ver em todas as coisas, de repente,
O que escapava, o que eu não percebia.

Olhar o céu e ver um outro azul,
Sentir um novo aroma no café.
O sol na cara, o vento, o andar a pé,
O mar, o litoral de norte a sul...

Nadar num igarapé, depois correr.
Chupar, no pé, a fruta, adormecer
E até fazer uma canção de amor...

Exijo, então, um pouco mais de mim.
A vida é quem ensina a ser assim.
E, assim, mais alegria em vez de dor.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 21 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Lembrança


Alguma coisa do passado ainda resiste e mantém-se viva.
Algo que se não enxerga ou compreende.
Coisa que insiste e não se dissipa.
Restam cicatrizes invisíveis; manchas no inconsciente;
Lesões na alma.
Olho pra mim mesmo e vejo no espelho o que ‘inda resta:
Resta a negação, o avesso do amor –
O próprio amor doente a esvair-se, lentamente,
Sem mais vontade de lutar pela vida.
Sua morte já está certa, programada, desejada até!
Mas ele (o amor) ainda vive na lembrança.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 11 de junho de 2010.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Deus


Deus não é anterior ao mundo,
Ele não o criou.
É o mundo mesmo em si.

Deus é a própria criação,
É a própria vida
Em todos os sentidos,
Em todos os lugares.

Ele permitiu que fôssemos,
Cada um de nós,
Extensões dEle próprio
Para se fazer presente
Aqui e ali,
Dentro e fora,
Ontem, hoje e amanhã.

Deus é o melhor daquilo
Que não conseguimos encontrar
Em nós mesmos.
É todo o amor que
Não praticamos
E é toda a maldade também.

Porque Ele permitiu
Que toda a diversidade
Fosse uma só coisa:
Um mistério, uma canção;
Uma energia eterna em movimento.
Transformação...

Felipe Fonseca
Belém, 20 de maio de 2010.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Inspiração


Vem, inspiração!
Eu te suplico a presença
Pra não haver desavença
Entre mim, a caneta e o papel

Vem que eu te espero ansioso
Escravo da tua vontade,
Imploro a tua bondade
Pra um novo poema nascer

Se acaso não vieres... não tem problema!
Já me acostumei ao dilema
De seres sempre tu quem escolhe
O dia, a hora e o tema.

Felipe Fonseca
Belém, 11 de maio de 2010.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Separação


Insônia na noite furtiva

Medo que paralisa e sufoca

A boca à procura de um beijo,

Um olhar... o espelho

É uma lâmina que corta


Martírio do corpo e da mente

Lembrança vívida e triste.

Particípio passado do amor

Que insiste no tempo presente


Agonia de um peito vazio,

Um nadar de encontro à corrente

Incertezas da vida, confusões da alma

Que insistem em separar a gente.


Felipe Fonseca

Belém, 22 de abril de 2010.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Festa


Solidão em meio à multidão.
Barulho de conversas cruzadas, calor humano.
Clima equatorial, latinidade à flor da pele.
Corpos que dançam, se encaram e se enroscam num balé sensual.
Lá fora, um lindo céu negro e laranja
Marca a despedida de mais um dia de sol.
Penetro em outra realidade. Não ouço o som. Não vejo as pessoas.
Somente aquele céu cada vez menos laranja, cada vez mais negro.
E a estrela que brilha mais forte e mais perto a cada minuto vira a “Senhora da Noite”.
Vem uma sensação de perda e vazio.
Mas aquela estrela me diz, silenciosamente,
Que o sol brilha novamente a cada manhã.
Essa realidade é tão óbvia que as pessoas deixam de percebê-la.
Ninguém ma mostrou tão bem quanto tu, “Senhora da Noite”, estrela da festa.
Vai e revela teus segredos a outros.
Quantos aqui não estão também sozinhos em meio à multidão?

Felipe Fonseca
Belém-PA, 07 de junho de 2010.