quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Folhas secas


Acorda amor, abre a janela.
A chuva fina que molhava o batente
Almejando encontrar teu rosto cansado,
Com o tempo, se esvaiu.
Já não mais águas do céu caem,
Nem lágrimas dos teus olhos.
O sol, aos poucos, se mostra por trás da última nuvem cinza,
Aquece as águas das folhas, a terra úmida,
E ilumina teus cabelos dourados.
Amor, desperta:
Vem ver as flores se abrindo e a vida que insiste;
Vem cantar uma canção com os pássaros
E sentir o perfume da rosa.
O sol nasce a cada manhã e
As folhas mortas e secas são o estrume
Da árvore que cresce
E da flor que se abre na primavera.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 29 de dezembro de 2010.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Meditação


Depois da procela inaudita
Subsiste, em pleno estio, uma desdita
Uma dúvida que impõe sua presença.

Não que deva haver uma sentença
Ou ser apagada alguma cicatriz do corpo cansado.
Porém, ao menos, saber-se inabalado.

Há que se ungir, por agrado,
A santa carne do homem
Réstia de desesperança e incerteza

Há que se entender, após milênios à mesa
Do ser que a vive e consome -
A vida, esse mistério intrincado.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 08 de dezembro de 2010.

foto: Leonardo Cerqueira de Melo em

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A casca


Silencioso céu azul e branco de intensa luz,
Inalcançável luz de afastamento
Momentâneo e incompleto.
Cristais de dor a refletir as horas,
Eternamente breves,
Desse crepúsculo insensato:
Vago mar morto e sutil de um pranto,
Tempo ilusório das horas;
Dores profundamente breves
Que, teimosas, se eternizam
À flor da pele - casca porosa e seca,
Triste e cinzenta.

Belém-PA, 30 de novembro de 2010.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Blog é nosso.


Agradeço a todos que comentaram alguma vez e àqueles que comentam sempre neste espaço. Agradeço também àquelas pessoas que entram, lêem os poemas e não comentam, porque elas interagem, ainda que em silêncio: um poema - ou qualquer outra obra - somente se completa com o interlocutor. Sejam todos bem-vindos! O Blog é nosso.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Feliz Lusitânia


Do sol o rio reflete uma luz.
Nas árvores o vento balbucia
Para ternos casais uma elegia
E a um poema esse instante conduz.

Feliz Lusitânia, se ainda vivo
Fosse Monet, ao te conhecer,
Por certo, imaginaria consigo
Um jeito de pintar-te ao entardecer.

Do revitalizado prédio antigo,
Absorto, tenho nas mãos o antídoto
Que me entorpece os sentidos e a alma.

Ó lindo céu azul, ó rio que acalma,
Ó paisagem de silêncio eloqüente -
Belém antiga, quero-te pra sempre!

Felipe Fonseca
Belém-PA, 14 de setembro de 2010.

sábado, 31 de julho de 2010

Horizonte


Uma simples frase, uma lembrança,
Uma letra, uma canção...
O poeta chora as mágoas,
Mesmo sem ter intenção.
As palavras vêm surgindo
E pintam a tela da emoção.

Um quarto vazio, a cama arrumada
E a doença do mundo: solidão.
O poeta quer se livrar - não consegue!
Em sua cabeça: confusão.
Já não quer pensar em nada;
Precisa seguir sua estrada.

Logo à frente um horizonte
Que precisa ser pintado
Não sabe quando, nem onde,
Com que cores, que traçado...
Se o poeta tem que amar,
Também precisa ser amado.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 31 de julho de 2010.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Explicação


Diz-me o que é a vida e pra que o viver.
Onde a lógica do mundo se encontra?
Mostra-me o que é a morte e o que é o nascer,
Explicações que o homem há muito sonda.

Qual o móvel secreto das paixões?
E o verdadeiro amor, o que ele é
Que pode fazer mal aos corações?
De que serve esta vida sem ter fé?

Perguntas infindas terei, ao certo.
A vida é um oásis também deserto!
E não há manual a se seguir...

Melhor é conformar-se à ignorância,
Que a certeza do homem é só a ânsia
E a incerteza eterna do porvir.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 28 de julho de 2010.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dúvida


Surge um sentimento:
Sentimento obscuro.
Burocraticamente nascido
Do improvável
Absurdo.
Semblantes disfarçados
Num desatento mundo.
Bocas que desejam,
Olhares que revelam
Fantasias insólitas...
O mundo em desatino.
Roda o pensamento,
Sopra o vento
Aqui dentro
Um sonho
Um alento
Uma canção.
Dúvidas que emergem
De um instável presente,
Improvável futuro:
Silêncio eloqüente
Que martela o coração.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 20 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

Flores


Em um dia de sol e de calor,
Andando p’las areias, lentamente,
Com a graça e a beleza de uma flor
Apareceste, inesperadamente.

Faltou-me o chão ao enxergar-te assim:
Visão tão pura, inebriante e bela!
Um misto de lírio, rosa e jasmim,
Eras a própria primavera em tela.

Renasceu, dentro em mim, de novo o amor,
No momento em que eu menos esperava.
Por teus carinhos livrei-me da dor...

E quão bela é a serenata que escuto,
Que sigo em frente, alegre e resoluto,
Esquecido da mulher que eu amava.


Felipe Fonseca
Belém-PA, 17 de julho de 2010.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Soneto


Agora, enfim, viver de novo a vida
E, assim, olhar pra tudo diferente.
Ver em todas as coisas, de repente,
O que escapava, o que eu não percebia.

Olhar o céu e ver um outro azul,
Sentir um novo aroma no café.
O sol na cara, o vento, o andar a pé,
O mar, o litoral de norte a sul...

Nadar num igarapé, depois correr.
Chupar, no pé, a fruta, adormecer
E até fazer uma canção de amor...

Exijo, então, um pouco mais de mim.
A vida é quem ensina a ser assim.
E, assim, mais alegria em vez de dor.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 21 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Lembrança


Alguma coisa do passado ainda resiste e mantém-se viva.
Algo que se não enxerga ou compreende.
Coisa que insiste e não se dissipa.
Restam cicatrizes invisíveis; manchas no inconsciente;
Lesões na alma.
Olho pra mim mesmo e vejo no espelho o que ‘inda resta:
Resta a negação, o avesso do amor –
O próprio amor doente a esvair-se, lentamente,
Sem mais vontade de lutar pela vida.
Sua morte já está certa, programada, desejada até!
Mas ele (o amor) ainda vive na lembrança.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 11 de junho de 2010.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Deus


Deus não é anterior ao mundo,
Ele não o criou.
É o mundo mesmo em si.

Deus é a própria criação,
É a própria vida
Em todos os sentidos,
Em todos os lugares.

Ele permitiu que fôssemos,
Cada um de nós,
Extensões dEle próprio
Para se fazer presente
Aqui e ali,
Dentro e fora,
Ontem, hoje e amanhã.

Deus é o melhor daquilo
Que não conseguimos encontrar
Em nós mesmos.
É todo o amor que
Não praticamos
E é toda a maldade também.

Porque Ele permitiu
Que toda a diversidade
Fosse uma só coisa:
Um mistério, uma canção;
Uma energia eterna em movimento.
Transformação...

Felipe Fonseca
Belém, 20 de maio de 2010.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Inspiração


Vem, inspiração!
Eu te suplico a presença
Pra não haver desavença
Entre mim, a caneta e o papel

Vem que eu te espero ansioso
Escravo da tua vontade,
Imploro a tua bondade
Pra um novo poema nascer

Se acaso não vieres... não tem problema!
Já me acostumei ao dilema
De seres sempre tu quem escolhe
O dia, a hora e o tema.

Felipe Fonseca
Belém, 11 de maio de 2010.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Separação


Insônia na noite furtiva

Medo que paralisa e sufoca

A boca à procura de um beijo,

Um olhar... o espelho

É uma lâmina que corta


Martírio do corpo e da mente

Lembrança vívida e triste.

Particípio passado do amor

Que insiste no tempo presente


Agonia de um peito vazio,

Um nadar de encontro à corrente

Incertezas da vida, confusões da alma

Que insistem em separar a gente.


Felipe Fonseca

Belém, 22 de abril de 2010.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Festa


Solidão em meio à multidão.
Barulho de conversas cruzadas, calor humano.
Clima equatorial, latinidade à flor da pele.
Corpos que dançam, se encaram e se enroscam num balé sensual.
Lá fora, um lindo céu negro e laranja
Marca a despedida de mais um dia de sol.
Penetro em outra realidade. Não ouço o som. Não vejo as pessoas.
Somente aquele céu cada vez menos laranja, cada vez mais negro.
E a estrela que brilha mais forte e mais perto a cada minuto vira a “Senhora da Noite”.
Vem uma sensação de perda e vazio.
Mas aquela estrela me diz, silenciosamente,
Que o sol brilha novamente a cada manhã.
Essa realidade é tão óbvia que as pessoas deixam de percebê-la.
Ninguém ma mostrou tão bem quanto tu, “Senhora da Noite”, estrela da festa.
Vai e revela teus segredos a outros.
Quantos aqui não estão também sozinhos em meio à multidão?

Felipe Fonseca
Belém-PA, 07 de junho de 2010.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Olhos




Eu sinto em ti uma força vibrante
Que, por vezes, se transmuta em paixão violenta.
Mas, não sei como, nem porque,
Há uma constância nessa inconstância
Que mantém os meus pés firmes no chão.
A ciência não me explica
Mas, sendo humano,
Aos poucos aprendo a ler,
Nos teus olhos de cólera, “Eu te amo!”.

Felipe Fonseca
Belém, 30 de junho de 2009.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tarde Cinzenta


Sabe aqueles dias estranhos em que nos vem uma tristeza, assim de repente? Uma tristeza sem motivo aparente. Um aperto na garganta. Um peso na consciência, como se sentíssemos culpa por algo. Uma sensação de não pertencermos a esse mundo. Pelo menos não como ele se nos apresenta. Solidão. A opinião revoltada de nos sentirmos injustiçados... Será? Num certo dia desses resolvi derramar minhas lágrimas sobre o papel e registrar minha tristeza e todo o meu pessimismo momentâneo:

A chuva cai à tarde.
Uma imensa massa cinza
Pesa sobre meus ombros como uma bigorna.
Sem pensar em nada, sinto-me nostálgico
Como se lembrasse de um tempo feliz
Que vivi não sei onde, nem quando.
Mas a felicidade não existe nesse mundo;
Nesse mundo só existem a chuva, as tardes e tristeza.

Felipe Fonseca
Belém-PA, 12 de dezembro de 2006.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Samba-choro


Ah, esse samba choro que quando escuto choro...

Choro a pensar nas coisas que vivi:

Chorinho de amor - choro de saudade,

Chorinho alegre - choro de nostalgia


Em cada canção vejo lembranças,

Momentos que não voltarão.

Choro ritmado - coração descompassado no andamento da melodia

Minha alma sempre chora, num samba-choro,

Toda a melancolia.


Felipe Fonseca

Belém-PA

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ela


Falta Ela?
Falta tudo
Tudo é falta,
Tudo é Ela.

Falta é tudo
Ela? É falta
Dela tudo falta;
Tudo dela.

Ela é tudo!
Falta? É Ela
De tudo, Ela é falta
Da falta, tudo é Ela.

E nessa falta –
Falta dela
Quisera eu faltasse tudo
Que tudo fosse falta,
Menos Ela.

Felipe Fonseca
Belém, dezembro de 2002.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Faces


Quando menina,

És pétala de flor,

És fruta fresca,

Doçura suave deixada na boca.


Se mulher,

És ímpeto e vigor,

Onda de mar agitado

A penetrar em corações de rocha.


És, então, tempestade:

Nuvens preenchendo o imenso vazio de meu céu;

Trovão rompendo o silêncio de meu querer;

Relâmpago iluminando meu cantar.


E és, igualmente, um rio calmo,

Banho de cachoeira,

Passeio de mãos dadas em campos de girassóis.


E te sabendo assim - em duas faces:

Serena e forte,

Rápida e meiga,

Amante, amiga


Que me falta ainda descobrir?

Que mais em ti posso querer,

Se és menina e és mulher

Em meu cantar, em minha vida?


Felipe Fonseca

Belém-PA, 11 de dezembro de 2002